A recente problemática em torno do jogo “Baleia Azul” deixou-me a ideia de escrever este artigo sobre o padrão de utilização das redes sociais, consoante a geração. Será que todas as gerações estão igualmente capacitadas para enfrentar este mundo cada vez mais virtual? Onde está o limite de uma utilização saudável e onde se inicia uma utilização problemática?
Antes de avançar para as minha considerações, devo frisar algo importante: utilizo as diversas redes sociais sobretudo para fins profissionais, não sendo por isso o utilizador tipo. É essa a principal razão que me leva a analisar comportamentos a tentar entender os diferentes padrões comportamentais. Não se trata obviamente de um estudo empírico, mas simplesmente da minha percepção pessoal.
A Minha Geração (Digamos dos 25 aos 45)
A minha geração (ou pelo menos uma grande parte dela) não nasceu com os dedos no teclado, ou no ecrã de telemóvel. A Internet foi introduzida no fim da nossa infância/início da adolescência. Ou seja, não esteve sempre presente, foi introduzida gradualmente.
Quem não se lembra da Internet “dial-up” a 56 kbps, que nos fascinava tanto quanto irritava os nossos pais devido às contas astronómicas de telefone? Nessa altura, devido às restrições tecnológicas e ao preço, a Internet ocupava quanto muito uma hora do nosso dia. Seguiu-se toda a evolução: tecnologia wap no telemóvel; ADSL, já com preços mais competitivos e com velocidade mais digna; 3G e por aí adiante até aos dias de hoje.
No meu caso particular, a minha “primeira rede social” foi o IRC (Internet Relay Chat). Quem é da minha idade certamente que se lembra do mIRC.
Para quem não conhece, o IRC era basicamente um gigantesco chat, segmentado por “canais”. Estes canais podiam ter tópicos tão variados quanto futebol, amizades, localidades, etc. As operações faziam-se através de comandos, que tinhamos que aprender e que rapidamente sabíamos de cor. A paz e tranquilidade dos diferentes canais era mantida por “Operadores” nomeados pelo fundador. No fundo eram comunidades auto-geridas.
Na minha óptica, as principais diferenças do IRC para as redes sociais da atualidades são:
- Homogeneidade – A Internet estava longe de se ter tornado o fenómeno de massas em que tornou hoje em dia e por essa razão, existia uma muito maior homogeneidade em termos de faixa etária. A maior parte dos utilizadores do IRC eram adolescentes ou jovens adultos.
- Factor Humano – Os diferentes canais eram moderados por elementos escolhidos dentro da própria comunidade. Existiam ainda os utilizadores com poderes abrangentes ao nível dos servidores, com capacidade de fazer uma moderação mais alargada. Esta moderação tinha um carácter mais humano e próximo, do que aquela que pauta as redes sociais do presente, as quais são geridas sobretudo por algoritmos.
Com o surgimento do Hi5 e do MySpace começou a desenhar-se uma realidade mais próxima daquela que temos hoje. As redes sociais online passaram a focar-se mais na imagem e show off, do que propriamente nas interacções entre pessoas.
De uma forma geral, e como resultado de uma trajectória online mais extensa, considero que a generalidade das pessoas da minha geração está capacitada para fazer uma utilização saudável das redes sociais.
Geração Mais Velha (Acima dos 45)
A maior parte das pessoas acima dos 45 (talvez fosse mais correcto aumentar a fasquia e referir os 50), começou a utilizar a Internet mais recentemente. Em termos de redes sociais, são pessoas que se estrearam directamente no Facebook, não tendo passado pelo mesmo percurso online que a geração imediatamente mais nova atravessou. Assim, apesar de mais velhas, são pessoas com um menor grau de experiência neste mundo da Internet e das redes sociais.
Essa inexperiência torna esta geração mais facilmente alvo de esquemas de phishing ou de burlas. É também a geração que mais contribui para a proliferação das tão populares “fake news” (Olá Trump!).
Tudo isto acontece devido à menor experiência e ao facto de utilizarem sobretudo uma rede social, que até há pouco tempo nada fazia para combater a proliferação de conteúdos falsos. As alterações que o Facebook está a implementar e que têm como objetivo limitar a disseminação de conteúdos falsos e favorecer as publicações de qualidade, serão benéficas para todos os utilizadores, mas terão um maior impacto nas pessoas desta geração, que passarão a poder utilizar a sua rede social predilecta com outro nível de segurança.
Geração Mais Nova (De 25 para baixo)
São na sua maioria pessoas que cresceram com acesso à Internet e a smartphones desde tenra idade. Por essa razão não concebem o mundo sem esta tecnologia e sentem uma maior dificuldade em discernir o virtual do real.
A forte adesão a “jogos” como a Baleia Azul e outros do género, comprova o grau de importância que os mais jovens podem dar a acontecimentos e a pressões vindas das redes sociais. Por estarem sempre “ligadas” acabam por se deixar absorver facilmente por todo o tipo de moda online, o que pode resultar em consequências negativas.
Curiosamente, é nesta geração que o Facebook está a perder mais utilizadores. A razão? Os jovens simplesmente não querem estar na mesma rede social em que os seus pais estão. Esta vontade de se afastarem virtualmente da família tem levado muitos utilizadores da geração mais nova a darem preferência a redes como Instagram ou o Snapchat.
Cabe aos pais ou tutores fazerem um esforço no sentido de educar os mais jovens para uma utilização segura e consciente das redes sociais. Apesar de parecer que os miúdos, hoje em dia, nascem a dominar todas as tecnologias, não deixa de ser necessário enquadrá-los e ensiná-los a utilizar aquilo que têm à disposição.
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